DOCE LAR *

Todo dia tô à toa sob a dor do teu juízo
Teu corpo paraíso, teu gosto amargor
Todo dia na espera
De uma eterna primavera
Torturas e quimeras,
Meu sangue teu frescor
Pois pra ti o meu pecado
É o pendão do meu passado
Já não sei como fugir do teu olhar
Me cansei de te transar
Debutante – doce lar...

Tão bela e imperfeita,
Ninguém igual a ti
Só quero ir-me embora, mas pra onde devo ir
Hoje vejo outras meninas na “Esquina da Dolfina”
E as estrelas cocaína que a noite então soprou
Meu velho moletom já traz o tom do teu batom
Quero ser mais um gaudério rolling stone
Encouraçando corações
Basiliando alguns refrões!

Todo dia tô à toa sob a dor do teu juízo
Teu corpo paraíso, teu gosto amargor
Nas águas deste arroio, tão imundo e tão amado
Vejo sempre nos teus olhos, tanto espinho e pouca flor
Qualquer dia te abandono, digo não ao teu abraço
Minha musa, minha puta, meu amor...
Meu amor!

Enquanto este povo frágil e fanfarrão
Sepulta de vez toda a nossa canção
Pedindo desculpas aos donos da culpa
Perdido no bosque marcando bobeira
Tão triste tapando o sol co’a peneira
Pedindo justiça com tanta preguiça

Para sempre doce lar
Para sempre vou te amar
Para sempre doce lar

Enquanto este povo sofre de sopetão
Vendendo raízes herdadas do chão
Seguem os dias e passam os anos
Tantos enganos, perdas e danos
Na madrugada deserta e tão fria
Alguém que te chama de “miss simpatia”

Para sempre doce lar
Para sempre vou te amar
Para sempre doce lar

Enquanto este povo pobre e porcalhão
Espalha boatos, mastiga ilusão
Eu sei que acidentes e festas são prêmios
Eu sei que a segunda e o domingo são gêmeos
Eu sei do perigo de ser teu amigo
Então levo meus planos não deixo contigo

Para sempre doce lar
Para sempre vou te amar
Para sempre doce lar.




* Compus essa canção em 1993. Apresentei ela pela primeira vez no mesmo ano, num evento no Gitão chamado “Garota Saúde” (se não me falha a memória era beneficente para comprar o Raio X da Santa Casa). Cheguei a tocá-la algumas vezes em bares e na abertura de um show do César Passarinho em 1997. “Doce Lar” nunca foi gravada, embora seja, na minha opinião, a maior declaração de amor que já fiz para a minha cidade e uma das canções mais importantes que já escrevi.

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