O lugar se chama Xira’s Bar. Já faz mais de quinze anos que resiste nas noites da pequena Arroio Grande. Sempre com uma boa música, gente bonita e a risada inigualável do seu proprietário. Aliás, o proprietário (conhecido como Xiringa) é na verdade um cliente também. Troca idéias com os fregueses, escuta confissões, aconselha e, é claro, se degusta com a variedade de bebidas. As noites no Xira’s Bar não fogem muito à regra dos demais bares, com a peculiaridade de serem em Arroio Grande, lugar onde as noites "não têm noite". Não fosse o tal do Xiringa que atravessa invernos e verões sempre "fabricando vida noturna e inteligente" nessa cidadezinha do sul do sul do Rio Grande do Sul. Na rua, apesar do espaço estreito, os carros vão fazendo o estacionamento oblíquo e despejando os boêmios, que se subdividem em vários grupos. Uns mais espalhafatosos, outros mais discretos; uns acompanhados, outros à procura de companhia. Enfim, de tudo um pouco. Em poucas horas o ambiente está preenchido por integrantes de diversas gerações, e tomado por uma aura "poli-sentimental", onde a multiplicidade de interesses e assuntos revela a magia e o real significado da palavra "bar". Pelo balcão escorre uma correnteza de opiniões sobre futebol, política, música, passado, presente, futuro, amor, arroz, bundas, bebidas, etc. Tudo temperado com a cerveja mais gelada do universo. Ao menos do "universo boêmio-paroquiano" dos freqüentadores do Xira’s Bar. Sempre tem algum indivíduo que fica no canto do balcão, escorando as costas na parede, isolado e só observando a noite se desenrolar. Como se fosse um juiz, deixando escapar no olhar a sua sentença moral para os comportamentos incomuns, que vão se manifestando conforme o álcool é consumido e as horas avançam. Mas nada pode abalar a química do bar que se desenvolve num verdadeiro espetáculo noite afora. Num determinado momento a música parece uns decibéis acima do normal, porém não o suficiente para interromper as tantas conversas que se entrecruzam no ar repleto de fumaça e mistura de perfumes. Vai se aproximando a hora do "vale tudo", todos dançam, "bebemoram" e até o Xiringa já está tomando todas no meio da "galera". A alegria encontra sua plenitude e o bar inteiro se transforma numa tribo em dia de festa. Batucada nas mesas, coreografia na beira do balcão, beijos ardentes contra a parede e uma turminha que sai lentamente em direção à esquina (depois retorna sorridente e com os olhos vermelhos).O sol começa a pular a janela, pouco antes do Marcão e do Romerito tomarem a última gelada do freezer, finalmente, então, a porta se fecha. E encerra-se mais um capítulo das épicas madrugadas do Xira’s Bar. Lá fora ainda ficam o Valdir e o Claudinho, com os copos vazios, mas num assunto que ainda não acabou, e possivelmente nunca acabe. O Xiringa, então, coloca no DVD um vídeo clipe do Pink Floyd, enquanto toma a "saideira" (que ele escondeu na geladeira) e coloca as cadeiras e as mesas no lugar. A noite chegou ao fim.E no Bar do Xiringa é assim mesmo... Um lugar onde tudo pode, mas ninguém jamais ouviu um pagode. Um lugar onde se aquece as madrugadas com cerveja bem gelada. Um lugar onde se espanta a solidão e o freguês, às vezes, tem razão. Um lugar onde as noites são tão interessantes, que nem parece Arroio Grande.
Publicado em 13 de fevereiro de 2009.
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