"Para o grande amigo, cúmplice e parceiro musical Miguel de Freitas Vidal (Verão de 2008)."O lugar se chama Xira’s Bar. Já faz mais de quinze anos que resiste nas noites da pequena Arroio Grande. Sempre com uma boa música, gente bonita e a risada inigualável do seu proprietário. Aliás, o proprietário (conhecido como Xiringa) é na verdade um cliente também. Troca idéias com os fregueses, escuta confissões, aconselha e, é claro, se degusta com a variedade de bebidas. As noites no Xira’s Bar não fogem muito à regra dos demais bares, com a peculiaridade de serem em Arroio Grande, lugar onde as noites "não têm noite". Não fosse o tal do Xiringa que atravessa invernos e verões sempre "fabricando vida noturna e inteligente" nessa cidadezinha do sul do sul do Rio Grande do Sul. Na rua, apesar do espaço estreito, os carros vão fazendo o estacionamento oblíquo e despejando os boêmios, que se subdividem em vários grupos. Uns mais espalhafatosos, outros mais discretos; uns acompanhados, outros à procura de companhia. Enfim, de tudo um pouco. Em poucas horas o ambiente está preenchido por integrantes de diversas gerações, e tomado por uma aura "poli-sentimental", onde a multiplicidade de interesses e assuntos revela a magia e o real significado da palavra "bar". Pelo balcão escorre uma correnteza de opiniões sobre futebol, política, música, passado, presente, futuro, amor, arroz, bundas, bebidas, etc. Tudo temperado com a cerveja mais gelada do universo. Ao menos do "universo boêmio-paroquiano" dos freqüentadores do Xira’s Bar. Sempre tem algum indivíduo que fica no canto do balcão, escorando as costas na parede, isolado e só observando a noite se desenrolar. Como se fosse um juiz, deixando escapar no olhar a sua sentença moral para os comportamentos incomuns, que vão se manifestando conforme o álcool é consumido e as horas avançam. Mas nada pode abalar a química do bar que se desenvolve num verdadeiro espetáculo noite afora. Num determinado momento a música parece uns decibéis acima do normal, porém não o suficiente para interromper as tantas conversas que se entrecruzam no ar repleto de fumaça e mistura de perfumes. Vai se aproximando a hora do "vale tudo", todos dançam, "bebemoram" e até o Xiringa já está tomando todas no meio da "galera". A alegria encontra sua plenitude e o bar inteiro se transforma numa tribo em dia de festa. Batucada nas mesas, coreografia na beira do balcão, beijos ardentes contra a parede e uma turminha que sai lentamente em direção à esquina (depois retorna sorridente e com os olhos vermelhos).O sol começa a pular a janela, pouco antes do Marcão e do Romerito tomarem a última gelada do freezer, finalmente, então, a porta se fecha. E encerra-se mais um capítulo das épicas madrugadas do Xira’s Bar. Lá fora ainda ficam o Valdir e o Claudinho, com os copos vazios, mas num assunto que ainda não acabou, e possivelmente nunca acabe. O Xiringa, então, coloca no DVD um vídeo clipe do Pink Floyd, enquanto toma a "saideira" (que ele escondeu na geladeira) e coloca as cadeiras e as mesas no lugar. A noite chegou ao fim.E no Bar do Xiringa é assim mesmo... Um lugar onde tudo pode, mas ninguém jamais ouviu um pagode. Um lugar onde se aquece as madrugadas com cerveja bem gelada. Um lugar onde se espanta a solidão e o freguês, às vezes, tem razão. Um lugar onde as noites são tão interessantes, que nem parece Arroio Grande.
Publicado em 13 de fevereiro de 2009.

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