OS TERRANIANOS

“Esta história aconteceu a milhares de anos-luz da Maualândia...”

O capitão Zolf e a princesa Rabuza, soberanos da Galáxia Muskana, aguardavam ansiosos a chegada do conselheiro guardião, que durante dois anos estivera em missão de espionagem, estudando os costumes de um certo planeta azul da Via - láctea, o qual seria posteriormente invadido pelas tropas muskanianas. Zolf era um conquistador, costumava escravizar habitantes de outros planetas para servirem aos muskanianos, o conselheiro guardião estava atrasado para o seu relatório e a princesa Rabuza bastante inquieta.
-Onde está aquele lacaio incompetente?
Nisso soaram as trombetas, os portões da sala real se abriram e entrou o tão esperado conselheiro guardião.
-Trouxe as informações, conselheiro? – perguntou Zolf imponente.
-Sim, meu capitão, agi conforme a sua vontade.
-Então nos fale dos futuros escravos, conte-nos mais sobre o planeta azul.
-Bom, na verdade o planeta azul chama-se Terra e...
-Porque Terra – interrompeu Zolf – lá não existe mais água do que terra?
-Sim meu capitão, mas os terráqueos não sobrevivem na água, precisam de oxigênio em demasia, então montam suas comunidades apenas em terra firme.
Houve um silêncio momentâneo na sala real até que a princesa Rabuza perguntou:
-Diga-nos conselheiro, como eles são fisicamente?
O conselheiro guardião respirou fundo e começou a responder.
-Na sua maioria são esbranquiçados, embora existam alguns coloridos: Pretos, amarelos, marrom, etc. Eles têm dois olhos, mas não podem enxergar em duas direções ao mesmo tempo, também são bípedes, andam se equilibrando sobre duas pernas...
-Como assim conselheiro – interrompeu mais uma vez Zolf – você quer dizer que os terranianos se locomovem sempre desta forma?
-Não são terranianos, são terráqueos meu capitão e o fato de se locomoverem sobre duas pernas foi uma curiosidade que constatei nestes dois anos, eles na verdade são aficionados por equilíbrio, usam veículos sobre duas rodas chamados motos e bicicletas, quando estão nas partes mais frias de seu planeta, regiões onde há neve, andam deslizando sobre dois pedaços de madeira e quando entram na água marinha se equilibram apenas sobre um pedaço de madeira colorida.
-É impressionante conselheiro!
-Digo mais meu capitão, eles chegam ao ponto de colocar rodinhas sob os pés para se equilibrar.
-E porque os terranianos fazem isso, porque agem desta forma?
-Insisto que não são terranianos, são terráqueos meu capitão, todos esses comportamentos estranhos são apenas maneiras de diversão e esporte.
A princesa Rabuza escutava tudo atentamente, um pouco decepcionada com os seres do planeta azul, já o capitão Zolf estava inconformado com a insuficiência dos futuros escravos.
-Como podem ser tão inúteis e incapazes, conselheiro? Eles fazem coisas sem lógica e não conseguem sequer habitar a maior parte do seu próprio planeta, diga-me conselheiro, quem é o capitão dos terranianos?
-Os terráqueos – respondeu o conselheiro guardião quase impaciente – têm milhares de capitães.
-Como milhares? Tudo bem que eles sejam selvagens e estúpidos, mas precisam de um líder superior que os governe.
-Bem meu capitão, os maiores líderes da Terra são chamados de presidentes, cada um governa um grupo determinado da população, alguns presidentes brigam entre si gerando guerras entre os terráqueos. Quanto aos capitães existem milhares porque ser capitão na Terra não é uma patente tão alta, fica muito longe do poder dos presidentes... ou dos generais, por exemplo.
Zolf não gostou muito do que tinha acabado de ouvir, estava muito irritado e mesmo sabendo da incapacidade dos habitantes da Terra resolveu dar a ordem de invasão.
-Dentro de noventa e quatro ciclos quero as tropas de elite muskanianas na superfície do planeta Terra, vamos começar o processo de escravização aos terranianos.
-Terráqueos meu capitão, terráqueos.
-Não importa esses equilibristas desorganizados terão o que merecem, vão aprender a disciplina muskaniana, como é uma sociedade organizada, e acima de tudo, vão aprender a respeitar um capitão.
Soaram as trombetas, a preparação para uma nova invasão era um momento importante entre os muskanianos, foi quando o conselheiro guardião (já de saco cheio da histeria de seu capitão) interrompeu mais uma vez.
-Receio que não seja aconselhável meu capitão.
-Por acaso o conselheiro está questionando minhas ordens?
-Não meu capitão, na verdade ao longo de meus estudos descobri que os terráqueos além de oxigênio e água também precisam de comida para sobreviver, isso não seria positivo para nós.
-O que é comida? – perguntou a princesa Rabuza que já quase cochilava, achando que o assunto havia ficado monótono.
-São coisas que os terráqueos colocam dentro de seus corpos, funcionam como alimento, fontes de energia. As comidas mais comuns são de origem vegetal e animal.
-Então os terranianos além de bobos são assassinos? – indagou o capitão.
-E o pior de tudo meu capitão é que os TERRÁQUEOS depois de usarem a comida, expelem o restante através das fezes, que nada mais são do que pequenos volumes mal cheirosos e putrefatos.
-Minha nossa! – acordou-se a princesa Rabuza – isto pode nos causar um enorme dano ecológico.
-E tem mais – continuou o conselheiro – quando os terráqueos fazem algum esforço físico acima do normal ou são expostos a temperaturas altas, seus corpos liberam um líquido fedorento que nem eles próprios agüentam.
O capitão Zolf estava muito incomodado com as dificuldades para poder escravizar os habitantes da Terra e gritava sem parar.
-Malditos bípedes fedorentos!
-Simplórios, assassinos, esses terranianos não servem para nada.
-Terráqueos meu capitão, terráqueos.
-Não importa conselheiro, o fato é que estou de mão amarradas, depois de ter sonhado tanto com os escravos do planeta azul, e agora não sei o que devo fazer. Deuses Muskanos o que devo fazer?
-Segundo meus estudos, meu capitão, os terráqueos como escravos levariam menos de trezentos ciclos para poluir toda a atmosfera muskaniana, nossa galáxia inteira estaria condenada ao caos.
O espanto foi geral, o capitão Zolf recolheu-se em seus aposentos, pensou por alguns momentos e retornou à sala real ao lado da princesa Rabuza para fazer seu pronunciamento.
-Muskanianos e muskanianas, analisei profundamente a questão e em nome da ecologia muskaniana, em nome da nossa disciplina milenar, da higiene e da boa educação do nosso sistema tomei uma decisão.
As trombetas soaram mais uma vez.
-Eu e a princesa Rabuza suspendemos o processo de invasão ao planeta Terra, suspendemos também o processo de escravização, e ainda zelando pelo bem estar e pela saúde das famílias muskanianas, proibimos qualquer nave de nossa galáxia de se aproximar da atmosfera terraniana.
-Terrestre meu capitão, terrestre!

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