Se existe uma história infantil que me incomoda é aquela da formiguinha e da cigarra (outro dia vi minhas filhas lendo e quase infartei). Todos já devem conhecer, mesmo assim vou fazer uma breve síntese da trama. A formiguinha vivia trabalhando, enquanto a cigarra só ficava cantando (como se cantar não fosse trabalho). Quando chegou o inverno, a formiga estava tranquila com mantimentos e num lugar abrigado e a cigarra se tornara uma verdadeira indigente. Sempre tive a impressão (para não dizer a certeza) de que esta fábula infantil, além de depreciar os artistas e a importância da música no mundo, também alimenta a ilusão de que excesso de trabalho pode, um dia, levar ao enriquecimento. Mas deixemos estas filosofias e conceitos político-sociológicos de lado e vamos ao que interessa. Resolvi fazer Por Aqui uma pequena “releitura não autorizada” da fábula, ou seja, a minha versão da história para poder vingar as cigarras do planeta (e também os músicos em geral). Seria mais ou menos assim:
A CIGARRA E A FORMIGA
(por Sidney Bretanha)
Era uma vez uma cigarra e uma formiga. A formiga passava o dia trabalhando, carregando mantimentos para passar o inverno enquanto a cigarra apenas cantava alegremente pelos campos. Quando o inverno chegou a formiga trancou-se em seu formigueiro e atravessou a estação fria ali, sozinha em frente a uma enorme TV de plasma e comendo tudo do bom e do melhor que havia armazenado. O máximo que conseguia de contato com o lado de fora do formigueiro era através do orkut e do MSN. Porém, logo cortaram sua internet porque ela não podia sair do formigueiro para pagar o provedor e nem tinha débito em conta autorizado. Ficou, assim, solitária durante os meses de inverno (que para uma formiga parecem anos), somente conversando com as paredes e se alimentando.
Já a cigarra andou pelo mundo, negociando seu canto por comida e abrigo. Cantou em bares, igrejas, restaurantes, bordéis e também pelas ruelas da floresta. Aprendeu muitas coisas na estrada, aperfeiçoou suas técnicas de canto e seu estilo musical. No final do inverno a cigarra tinha conhecido muita gente, conquistou grandes amigos e espalhou pelo mundo a felicidade através de seu cantar. Não ficou famosa, mas estava saudável, repleta de amizades sinceras e vivendo em paz.
A formiga, por sua vez, estava obesa de tanto comer e já não tinha mais forças para carregar mantimentos para o próximo inverno. O excesso de trabalho lhe causara lesões musculares por esforço repetido e ela não tinha nenhum plano de saúde nem era filiada a nenhum sindicato. Entrou numa fila quilométrica da assistência social e a única alegria que lhe restava era a lembrança remota do belo canto da cigarra, que um dia ela havia escutado. Contam por aí que ainda conseguiu uma pequena aposentadoria com o INSS, poucas semanas antes de morrer, abduzida pela língua de um tamanduá-bandeira.
FIM
* Não se esqueçam de contar essa história para seus filhos, alunos e/ou crianças em geral. Quem sabe um dia a Disney (ou até mesmo a Rede Globo), não se interessa pelo assunto... Como diz um ditado local: “Acho brabo!”
A CIGARRA E A FORMIGA
(por Sidney Bretanha)
Era uma vez uma cigarra e uma formiga. A formiga passava o dia trabalhando, carregando mantimentos para passar o inverno enquanto a cigarra apenas cantava alegremente pelos campos. Quando o inverno chegou a formiga trancou-se em seu formigueiro e atravessou a estação fria ali, sozinha em frente a uma enorme TV de plasma e comendo tudo do bom e do melhor que havia armazenado. O máximo que conseguia de contato com o lado de fora do formigueiro era através do orkut e do MSN. Porém, logo cortaram sua internet porque ela não podia sair do formigueiro para pagar o provedor e nem tinha débito em conta autorizado. Ficou, assim, solitária durante os meses de inverno (que para uma formiga parecem anos), somente conversando com as paredes e se alimentando.
Já a cigarra andou pelo mundo, negociando seu canto por comida e abrigo. Cantou em bares, igrejas, restaurantes, bordéis e também pelas ruelas da floresta. Aprendeu muitas coisas na estrada, aperfeiçoou suas técnicas de canto e seu estilo musical. No final do inverno a cigarra tinha conhecido muita gente, conquistou grandes amigos e espalhou pelo mundo a felicidade através de seu cantar. Não ficou famosa, mas estava saudável, repleta de amizades sinceras e vivendo em paz.
A formiga, por sua vez, estava obesa de tanto comer e já não tinha mais forças para carregar mantimentos para o próximo inverno. O excesso de trabalho lhe causara lesões musculares por esforço repetido e ela não tinha nenhum plano de saúde nem era filiada a nenhum sindicato. Entrou numa fila quilométrica da assistência social e a única alegria que lhe restava era a lembrança remota do belo canto da cigarra, que um dia ela havia escutado. Contam por aí que ainda conseguiu uma pequena aposentadoria com o INSS, poucas semanas antes de morrer, abduzida pela língua de um tamanduá-bandeira.
FIM
* Não se esqueçam de contar essa história para seus filhos, alunos e/ou crianças em geral. Quem sabe um dia a Disney (ou até mesmo a Rede Globo), não se interessa pelo assunto... Como diz um ditado local: “Acho brabo!”
Publicado em 23 de janeiro de 2009.
Se formos parar para pensar(e nem é preciso pensarmos mto... basta relembrar um fato que aconteceu na "penúltima eleição"- 2004...), poderemos perceber que este texto é de uma coerêcia fantástica!!! O que seria "trabalhar" nos dias atuais??? Passar noites(por vezes até frias e cansativas noites...)realizanto apresentações em troca de um pouco mais nada de nada, apenas para ter uma chance de mostrar às pessoas o seu talento artístico , ou "viver viajando com despesas pagas pelos cofres públicos..."?
ResponderExcluirPorém, o talento nunca acabará mas já os "cargos políticos" são "trabalhos" passíveis de acabar a qualquer momento(SE ASSIM A JUSTIÇA QUISER!!).
Pensem nisso( e de preferência, ao som de uma boa música...).
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