PIPOCA COM FEIJÃO (parte 1 de 2)

Minhas filhas tiveram uma gatinha de estimação, que surgiu na porta da frente num dia de chuva de pedra. Ela chegou a conviver entre nós por uns seis meses, até que um vizinho homicida (e filho da p*) resolveu espalhar veneno pelas calçadas. A gatinha apareceu envenenada e agonizou por toda a casa, dando um verdadeiro show de terror na frente das crianças. Após muitas lágrimas, minha filha, na época com 5 anos, me perguntava porque o assassino não seria preso pela polícia. Fiquei fabricando argumentos descabidos para explicar que injustiças e pessoas más fazem parte do nosso cotidiano. Foi mesmo algo muito traumatizante para todos. O tempo passou e um belo dia surgiu outra bichana de estimação lá em casa (graças à amiga Izabel Rodrigues). Chegou ainda bebê, tanto que bebia leite de mamadeira. O nome dela é Pipoca. Toda branca, charmosíssima e com olhos ímpares (um azul e outro esverdeado). Após algumas semanas percebi que a Pipoca era surda (afinal não tinha medo do aspirador de pó e nem do meu violão) e fui pesquisar sobre o assunto, vindo a constatar que cerca de 80% dos gatos brancos com olhos azuis ou ímpares, são surdos. Percebi que além de termos uma gata de estimação, tínhamos também um membro especial dentro de casa. Diante da impossibilidade óbvia de matricular a Pipoca na APAE, resolvi redobrar o cuidado com ela e proibi-la de sair para a rua. Gatos surdos correm risco iminente de atropelamento e possuem menos defesa aos ataques de cães. A Pipoca, então, é a rainha do lar. Dorme no sofá e, às vezes, em cima do guarda-roupa. Na poltrona ou no carpete do quarto. Na estante dos livros ou no meio das Barbies de minhas filhas. Na verdade a Pipoca dorme em qualquer lugar. Voltei às enciclopédias e descobri que gatos dormem cerca de 16 horas por dia. Êta vidinha mais ou menos, hein?! Impossível não invejar. Imaginem como deve ser um gato baiano?
Mas voltando à Pipoca, ela é muito meiga e carinhosa. E esperta também, aprendeu rapidamente a abrir as portas; e desenvolveu um hábito pouco simpático de subir na cama pela manhã e arranhar/morder os pés da gente. Ela faz isso com uma carinha doce que até parece o Gato de Botas do filme “Shrek”, não dá para ficar zangado. Talvez ela saiba o horário de expediente do jornal. Mas talvez esteja mesmo preocupada com a possibilidade de faltar ração. Afinal, se a gente não levanta para trabalhar, ela não vai ter o que comer. Em outras palavras, ela dorme 16 horas por dia e ainda encontra tempo para não nos deixar dormir. Às vezes me pergunto se a Pipoca é nosso bicho de estimação ou se ela não seria a dona da casa e nós todos os seus humanos de estimação? Pois ela dorme quando quer, come sempre do bom e do melhor e não precisa pagar uma única conta. Privilégios que o resto da família não tem. Tudo ia bem, até o dia que a Pipoca entrou no cio pela primeira vez. Mãe do Céu, que vontade matar a gata desgraçada. Uiva tanto pela casa que os vizinhos devem imaginar que estou gravando um filme pornô. A gata ainda realiza danças de acasalamento pela sala que, se houver alguma visita, o constrangimento é geral. Agora estamos convencidos que a Pipoca terá de ser castrada. Ainda não aconteceu por falta de dotação orçamentária, para esta finalidade, nos recursos familiares (e também por pena da coitadinha). Mas não dá mais para evitar. Ainda mais depois que chegou lá em casa o Feijão. Vou contar como aconteceu a chegada do Feijão, foi mais ou menos assim...

Publicado em 12 de dezembro de 2008.

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