INCLINAÇÕES MUSICAIS

...é o título de uma canção do compositor pernambucano Geraldo Azevedo em parceria com Renato Rocha, que começa com o seguinte verso: “Quem inventou o amor teve certamente inclinações musicais...” O verso inicial da canção de Geraldo (que chegou a ser gravada por Nara Leão) reflete poeticamente apenas um pouco da importância da música em nossas vidas. Creio que sequer existe vida sem música. Nem mesmo para os surdos. Se alguém não acredita, então recomendo o filme “Mr. Holland’s Opus” (Mr. Holland, adorável professor – segundo a versão brasileira), com Richard Dreyfuss, lançado em 1995 (nem é tão velho assim). Onde um professor de música, após descobrir que seu filho nasceu surdo, passa a desenvolver técnicas de educação musical para deficientes auditivos. A música está presente em tudo e em todos os momentos, manifestando-se com constância no dia-a-dia de todos nós. Existe uma trilha sonora permanentemente ao nosso redor, embalando nosso cotidiano; quanto mais desfrutamos da música e nos deixamos envolver por ela, mais nos qualificamos para viver em harmonia nesse mundo. A música não é, tal qual aquele velho e desbotado conceito acadêmico, apenas a arte de combinar os sons e expressar sentimentos e/ou coisas através deles. Não, é muito mais do que isso. A música pode penetrar as almas, curar grandes males, rejuvenescer os espíritos e, acima de tudo, gerar o amor, em sua simplicidade e plenitude. Como no filme “O som do coração”, que também recomendo (este bem mais novo e pode ser encontrado na MEGA DVD’s, na Fênix e na Star cine, e talvez em outras, mas sabe como é né... eu só cito os clientes do jornal Meridional), pois, apesar de alguns exageros cinematográficos, também auxilia na compreensão do real valor da música e dos musicistas para a humanidade. Quando escutamos uma música ela não penetra somente em nossos ouvidos, mas sim em nossa alma por inteiro. Talvez por isso cada vez mais jovens almejem se tornar músicos, cantores, etc. Afinal, são inegáveis os “poderes” que a música concede aos musicistas, creio que principalmente aos compositores e aos cantores. Como, por exemplo, o poder de invadir o carro de uma pessoa bacana e sensível, que está trafegando solitária sob uma forte tempestade e confortar seu coração, deixando, através da magia musical, a felicidade espalhada pelo ar. Isso é uma recompensa que somente os músicos/artistas têm no desempenhar de suas funções/carreiras. Os mesmos músicos que algumas vezes são considerados vagabundos e condenados socialmente por não possuírem uma carteira de trabalho assinada. Alguns desses vagabundos idealizam o sucesso e a fama, outros já perderam seus ideais há muito tempo, lutando pela sobrevivência, sendo que ainda há outros que querem apenas musicar a vida de sua aldeia e de sua gente. Esses últimos possuem sonhos pequenos, tão pequenos que (como diria Humberto Gessinger) nunca têm fim. São vistos como pessoas complicadas, esquisitas e de comportamento incomum. Mas, ao contrário do que muitos pensam, são artistas que não se preocupam com aplausos e encontram a satisfação plena ao ver sua obra se manifestar na vida das pessoas que admiram. Mesmo quando o público é uma única pessoa, solitária dentro de um carro e sob um temporal de verão. Ter a capacidade de emocionar esse precioso público pode até não ser nenhum cartão Visa Mastercard, mas é algo que não tem preço. Algo que dá ao músico a certeza da importância de seu trabalho. Uma sensação que eterniza e justifica a poesia simples e exata máxima de Caetano Veloso que diz: “...como é bom poder tocar um instrumento!” Uma sensação que mentes ignaras, e limitadas à ganância financeira e à gula por poder, jamais compreenderão. Aos que consideram hipocrisia e duvidam da existência dessa sensação indescritível fica a sugestão de que busquem, através de sua tão propagandeada humildade, compreender e aprender com aquilo que desconhecem. Bastando para isso empinar menos o nariz e saber inclinar-se mais diante da sabedoria intuitiva que somente a arte pode proporcionar. É simples, basta inclinar-se um pouquinho... ouvir... ouvir... e logo o amor chegará em seus corações, pois a música está em toda parte e quem inventou o amor teve certamente inclinações musicais.
Encerro Por Aqui deixando um grande e fraterno abraço ao amigo e ex(?)companheiro Juninho, que com palavras certeiras e de incontestável talento me retratou em sua coluna do dia 13 de março (mesma data em que o blog Auto Retrato completou 1 ano no ar). Haverei de retribuir a atenção assim que a inspiração permitir, talvez não com a mesma qualidade literária, mas certamente com equivalência de carinho e sinceridade.

Publicado em 20 de março de 2009.

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