SIDNEY

Dia 20 de fevereiro, sexta-feira, véspera de carnaval, dez horas da noite. Eu andava de automóvel pela Andrade Neves, próximo ao Centro de Pelotas, debaixo de uma chuva torrencial, rumo ao Bar do Nenê. Sozinho, busquei sintonizar uma FM qualquer, entre as emissoras de rádio da cidade. 95.3, não; 99.9, não; de repente, na 104.5, escuto uma voz conhecida, um violão conhecido, uma canção conhecida. “Procura um amigo, procura um amigo e não acha”, diz o refrão, que me acompanha já quase no cruzamento com a Avenida Bento Gonçalves. A música é Norina, uma antiga homenagem à Morocha, composta há mais de vinte anos pelo Caboclo, aquelas coisas mágicas que só o bruxo Edu Damatta consegue criar. A rádio é a Rádio Com, a Comunidade FM, o violão é do Pardal Moura e a voz é do Bretanha, do Sidney, do Sidney Bretanha. O Sidney, ele mesmo, o músico e compositor, o criador do Milonga Mauá, o político que foi vereador e candidato a Prefeito por aqui (para usar uma expressão dele), o Diretor do Jornal Meridional, o cara que vive da controvérsia, de bater no governo local, o homem que alguns detestam, o guri que poucos compreendem, o artista que muitos sequer conhecem, o ser humano que poucos observam. Pois esse Sidney, o filho da Zaidinha, o pai de duas meninas, o parceiro do Gelson Domingues, o sujeito que parece ser realmente complicado e que às vezes dá a impressão de que se diverte (?) com a divisão que provoca (??) e com todos os juízos (???) que costumam fazer dele – os bons, os maus, os bonitos, os feios... -; pois para mim, que também já devo ter externado todos os juízos possíveis sobre ele (com que direito? a que troco?), naquele dia 20 de fevereiro, uma sexta-feira, véspera de carnaval, às dez horas da noite, somente uma coisa realmente importou: eu estava sozinho em Pelotas (quando não queria estar sozinho), debaixo de uma chuva torrencial, e o Sidney apareceu para mim, cantando na FM Comunidade, 104.5, “procura um amigo, procura um amigo e não acha”. E eu reconheci a voz do Sidney nas ondas do rádio, e eu agradeci por ele ser artista, e eu fiquei alegre por ele estar ali comigo, e, quando a música terminou e a chuva diminuiu, eu desci do carro e entrei no bar, e cumprimentei o Nenê e a Dona Marly com a maior felicidade possível, e aí - pronto! -, eu já não estava mais sozinho quando não queria estar sozinho. E eu precisava dizer isso para todos, mas especialmente para o Sidney que, eu sei, costuma andar às vezes tão sozinho quanto eu, mesmo por aqui, pelas ruas da nossa cidade (dele, minha, de todos nós...), com a agravante, talvez, de não ter quem cante para ele, “procura um amigo, procura um amigo e não acha...”. Um abraço, Bretanha.

Pedro Bittencourt Jr. (Juninho) – Publicado em 13 de março de 2009.

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